A feira livre é uma festa popular

Peu Araújo

Pedro Philippe FS.

7/8/2024

“Eu tenho pra vender, quem quer comprar”

A palavra feira vem do latim e significa “dia santo ou feriado”. E essa talvez seja a melhor definição deste fenômeno que, apesar de vir junto com os portugueses, faz todo sentido em nossa cultura. É na feira que a gente encontra os vizinhos, amigos. É na feira que o peixe é mais fresco, é na xepa que tudo fica mais barato. É no grito do feirante que decidimos se vale a pena comprar aqui ou ali. 

“Tinha uma vendinha no canto da rua”

Não dá para precisar qual foi a primeira feira do Brasil ou quem foi o primeiro feirante a gritar “moça bonita não paga, mas também não leva”. Os registros mais antigos são de escritos de D. João III, em 1548, ordenando a encontros semanais nas colônias para trocas entre portugueses e nativos. 

“Faz gosto a gente ver”

A feira, principalmente nas cidades do interior do Brasil, tem várias funções. Em período eleitoral, que já já a gente entra, ela serve como termômetro para os candidatos. O povo veste a camisa de seu político, pega sua bandeira e vai fazer zoada no meio das frutas e verduras. Quem faz mais alvoroço demonstra mais força e, consequentemente, mais chance de ganhar a eleição. Para quem está no mandato, andar na feira é também um bom parâmetro para saber se seu queridômetro está em alta ou em baixa.

“De tudo que há no mundo nela tem pra vender”

Não se engane! Na feira não tem só frutas, legumes e verduras. Há todo um mundo à sua disposição e esses produtos e serviços variam de cidade, estado e região. Mas dá pra consertar a panela de pressão, trocar a correia dos chinelos, comprar utensílios domésticos, roupas, queijos, carnes, farinhas, redes de dormir, eletroeletrônicos, perfumes, ervas para banhos e chás, brinquedos e mais uma infinidade de coisas. 

“A feira livre vem persistindo, resistindo ao processo acentuado de negação da rua, do espaço público de pouco acesso, que vem marcando a urbanização brasileira nas últimas décadas. Trata-se não apenas de garantir aos pobres uma forma de geração de emprego e renda, ou de oferecer ao consumidor urbano uma alternativa a mais para aquisição de uma gama de produtos. Trata-se de preservar a rua como lugar de encontro. De preservar uma tradição popular urbana. Uma questão de cidadania.”

Miriam C. S. Dolzani para o artigo Feira livre: Territorialidade popular e cultura na metrópole contemporânea

O feirante é, antes de tudo, um forte

A vida do trabalhador da feira não é fácil. Acordar com a noite alta, montar barraca para, ainda antes do sol raiar, começar a vender até a hora do almoço e depois fazer o processo inverso. Em cidades como São Paulo, as feiras são itinerantes. Na terça em Perdizes, quarta no Tatuapé, quinta no Ipiranga, sexta em Santana e por aí vai. Em cidades menores, é mais comum ter um dia só para a feira, mas a labuta é a mesma. 

META DE VIDA

PASTEL COM CALDO DE CANA

Este parece ser um consenso em toda feira de diversas cidades do Brasil: vai ter pelo menos uma barraquinha de pastel e caldo de cana. Com certeza…

Ou será que não?

Agora a gente quer saber: esse é um consenso nacional? Em toda feira do Brasil tem pastel e caldo de cana?

Peu Araújo

Jornalista, diretor, diretor de conteúdo, roteirista, pesquisador, colecionador de discos e DJ. Como repórter, atua há quase 20 anos com colaborações e passagens por grandes redações. No audiovisual, fez a pesquisa para a série Em Nome de Deus, da Rede Globo. Fez direção de conteúdo para a série Guga Por Kuerten, prevista para o lançamento em 2024 na Disney / Star+. Fez direção e roteiro do documentário Nocaute: Golpes de Uma Tragédia, para UOL Play, entre outros trabalhos. É também pesquisador de música brasileira e diretor musical.

Pedro Philippe FS.

Jornalista e podcaster do sertão do Cariri cearense