Peu Araújo
29/8/2024
PÉ NA AREIA, A CAIPIRINHA, ÁGUA DE COCO, A CERVEJINHA
A praia lotada é um hábito brasileiríssimo e parece que faz parte da nossa rotina desde de sempre, mas acredite, não é bem assim. Historicamente, a ocupação da faixa de areia com altinha, futevôlei, mate, biscoito, queijo coalho, amendoim, caldinho de sururu, milho e castelo de areia é algo bem recente.
Quer ver só?
PRAIA PRA CURAR
Na virada para o Século 20, o banho de mar era visto apenas como uma prática terapêutica para quem tinha alguma questão de saúde mesmo. Nada de lazer e porção de camarão à milanesa. O banho de mar pode ser útil em algumas situações: problemas de pele, problemas respiratórios, redução de dor em doenças crônicas, reforço da imunidade, além de auxiliar no bem-estar e trazer benefícios psicológicos.
GARBO E ELEGÂNCIA
No início do Século 20, os Estados Unidos e a Europa começaram a vender a ideia de que pessoas finas e elegantes iam à praia. Aquele espaço antes usado só para curar as feridas passou a ser sinônimo de status. Essa ideia, no Brasil, começou a pegar a partir de 1920. Mesmo assim, só 20 anos depois o bairro de Copacabana passou a ser associado à elite carioca.
ESPAÇO VIP
O primeiro momento de ocupação das praias cariocas não é democrático. A moda pegou quando Coco Chanel foi vista nas revistas elegantes com o corpo bronzeado e isso virou tendência na alta sociedade. Nesse período houve também um culto maior ao corpo moldado, mas isso é assunto para outro texto. Com a faixa de areia ocupada geralmente pela elite, nem o transporte público ia até lá. O frango e a farofa não tinha vez naquela época.
O QUE É ESSA GENTE AQUI?
No fim da década de 1920, as classes menos abastadas começaram a se interessar pelo mar, pelo sol e pela praia, mas isso virou um problema para a gente diferenciada que frequentava a orla. Essa “invasão” começou a ser alardeada pelos moradores mais ricos e essa ideia de praia como espaço da elite permaneceu por longas décadas.
“Ao mesmo tempo em que a praia é vendida como um espaço democrático, há uma gestão moral sobre esta aparente democracia, que marca nossa estrutura social, que é profundamente estratificada.”
Julia O’Donnel, antropóloga e autora do livro “A invenção de Copacabana: culturas urbanas e estilos de vida no Rio de Janeiro” em entrevista para o jornal O Globo
Esse discurso do “nós”, que temos direito à praia, e “eles”, que invadem o nosso espaço, é algo que se aplicou e ainda se aplica a muitas cidades litorâneas em toda a costa brasileira. A pergunta que temos que fazer sobre isso é: até quando?
E pra você, o que a praia significa?