Pedro Philippe FS.
18/3/2024
Foram 52 trios elétricos, saindo um atrás do outro, da Ondina em direção à Barra. Artistas de todos os ritmos, do axé ao eletrônico: com um trio de MPB dançante seguido de outro tocando reggae, vindo depois uma banda de forró cantando ‘Dona da Minha Cabeça’ e atrás dele um DJ com ‘Ai Ai Ai - Remix’.
É um furdunço.
A primeira vez em que estive no Furdunço foi em 2018, quando o calendário do Dia de Iemanjá coincidiu perfeitamente com a semana de pré-carnaval, como aconteceu neste ano.
Ouvir Baiana cantando “Duas Cidades” ali, naquela cidade, naquela avenida, com aquele povo que sabe de verdade qual o bicho que pega entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa… é uma experiência além.
BaianaSystem é uma experiência além da música, pra mim. O som conduz o corpo, a voz de Russo Passapusso conduz o salto, os visuais no telão conduzem à calma.
Um mar de gente no Farol da Barra, pulando e gritando HUU! PERERÊ! é uma elevação. É o mais próximo que um ateu pode chegar de uma experiência espiritual - e pra quem tem fé, é um déjà vu.
E vem tudo à tona, como uma bola de ar subindo à superfície da água: a alegria de estar vivo, a raiva daqueles 4 anos de desgoverno, a alegria por esse desgoverno ter acabado, a súbita compreensão “meu deus, eu estou em Salvador!” e uma vontade incontrolável de pular.
Isso tudo enquanto a gente segue o Navio Fantasma, soltando no grito e no suor uma indignação imensa com o Brasil e uma gratidão imensa por ser brasileiro.
Mais cedo, atrás do Olodum até chegar ao final do percurso do Furdunço, pensei em todo mundo que eu queria que estivesse ali também. Pra cantar comigo “não me pegue, não me toque, por favor não me provoque”.
Pra ver o trio do Olodum com a batucada no chão, o Farol da Barra ao fundo, o sol se pondo, tanta gente preta dançando e bebendo.
BaianaSystem é uma experiência muito brasileira e também muito mística pra mim. Assim como a Bahia tem aquele axé que a gente tanto fala quando chega lá. É uma energia, uma coisa, um negócio diferente e único.
E aproveitando o altar da roda punk, eu desejei que a gente tenha mais acesso à experiência brasileira da viagem. A gente merece.
Trabalho digno, salário bom e férias pra todo mundo. Axé! Amém!