Pedro Philippe FS.
3/10/2024
Essa figura mitológica, meio homem e meio bicho, esteve na proa de embarcações do mundo todo ao longo dos séculos.
No Rio São Francisco, os barqueiros começaram a navegar com uma carranca à frente já no século 19. Acredita-se que o primeiro barco a desbravar o velho Chico foi construído de Penedo (AL) e já foi pra água com uma carranca para lhe proteger.
ENFEITA E PROTEGE
O item decorativo podia ser talhado em madeira ou feito de barro. Colocado na frente do barco para dar uma enfeitada, a cara feia também vinha com a crença de que afugentaria os maus espíritos do rio.
Mas a beleza da carranca não estava no senso estético comum: quanto mais feia for, melhor é na força de espantar o mal.
DOS BARCOS PARA AS CASAS
O costume dos antigos navegantes saiu da água e veio para o chão.
Muita gente adquiriu a fé que ia à frente dos barcos e a trouxe às frentes das casas: na entrada, para espantar mau olhado e energia ruim, uma carranca pode fazer a função de proteção e item decorativo.
A carranca, assim como Exu e outras divindades religiosas de proteção, ficam do lado de fora, protegendo o espaço.
ANA DAS CARRANCAS
Ana Leopoldina (1923-2008) foi uma artesã que se destacou na confecção de carrancas no período em que as embarcações lotavam o Rio São Francisco.
Pernambucana de Ouricuri e autodidata, Ana se dizia louceira, profissão que herdou da mãe. Diferente da maioria dos artesãos, que trabalhava com madeira, a matéria-prima da arte de Ana era o barro.
MESTRE BITINHO
Severino Borges é de Taipu, no Rio Grande do Norte, mas a inspiração para a sua maior arte veio de um diretor japonês, com o filme King Kong de 1967. Vendo aquele bicho assustador no cinema, Mestre Bitinho resolveu fazer a “carranca macaca”, que mais tarde ficou conhecida como “carranca vampira”, por conta dos dentes vampirescos da escultura.
Mestre Bitinho é o principal artesão carranqueiro em atividade em Petrolina e sua carranca vampira hoje é a peça mais reproduzida e comercializada.
E VOCÊ?
Tem uma carranca em casa?