Peu Araújo
31/10/2024
Pedro Tourinho é uma presença constante no cenário cultural brasileiro há alguns anos. Você pode ter ouvido falar dele por sua gestão na carreira de nomes como Anitta, Regina Casé, Bruno Gagliasso ou Chay Suede. Ou por ser o fundador da SOKO, premiada agência de comunicação e relações públicas, e ainda pelo lançamento de seus livros Eu, Eu Mesmo e Minha Selfie e Ensaio Sobre o Cancelamento.
Mas desde 2023, o comunicólogo tem ocupado o cargo de Secretário de Cultura e Turismo de Salvador e em sua gestão, além de estar à frente do Carnaval, criou iniciativas como o Distrito Cultural do Centro Histórico, desenvolveu o audiovisual da cidade e o Salvador Capital Afro.
Tourinho é também responsável por projetos importantes como o Centro Cultural Ilê Aiyê, Teatro Vila Velha e muito mais. Pronto conversou com ele para saber como é comandar a pasta de cultura e turismo de uma cidade como Salvador.
Pronto: Qual o maior desafio para se fazer cultura no Brasil em 2024?
Pedro Tourinho: Nosso grande desafio é criar políticas e ferramentas de realização e fomento de cultura no país pelo viés dos interesses públicos, e não apenas pelo viés dos interesses do mercado. A concentração dos investimentos em São Paulo, seja direto, seja através das próprias leis de incentivos fiscais, torna o panorama do desenvolvimento econômico através da cultura no Brasil tão injusto quanto nosso país é.
Pronto: Como o turismo pode dialogar com a economia e preservação ao mesmo tempo? Tem uma fórmula?
Pedro Tourinho: Digo sempre: a cidade só será boa para o turista se for boa também para seus moradores. Esse senso de cuidado, pertencimento. A consciência da cidade, do seu patrimônio histórico, tem de ser compartilhada entre os gestores públicos, os moradores e os turistas. Quem ama, cuida. Quem cuida, ama e preserva. O exemplo tem que vir do poder público, e daí tudo se dá numa reação em cadeia. A fórmula é consciência patrimonial, diálogo e cuidado.
Pronto: Você enxerga a cultura como uma ferramenta de transformação?
Pedro Tourinho: Sem dúvidas é uma das grandes ferramentas de transformação que temos. A cultura gera empatia, gera fortalecimento da própria identidade e verdade, gera expressão. Cultura é terapêutica, é identificação. Quem se conhece é mais forte, mais seguro, quem reforça a própria identidade é mais potente e próspero. Isso serve para cada um de nós, assim como também para nossa coletividade.
Pronto: Como você pode contribuir para a cultura e a história da negritude em Salvador mesmo sendo uma pessoa branca?
Pedro Tourinho: Trabalhando de forma afirmativa, inconteste e constante na reparação histórica, na garantia do protagonismo negro na cidade de Salvador, na correção de injustiças cínicas, na construção de ferramentas que garantam não só a representatividade como sobretudo a prosperidade da população negra. É uma decisão que o gestor público não só tem total autonomia de tomar, como numa cidade como Salvador tem também obrigação.
Pronto: Qual o segredo da Bahia para revelar tanta gente talentosa?
Pedro Tourinho: Essa terra tem uma energia que a ciência ainda não conseguiu explicar, mas que os iorubanos sim, chama-se Axé.
Pronto: Essa é uma pergunta difícil, mas que artistas você destacaria no cenário cultural de Salvador hoje?
Pedro Tourinho: O cenário cultural de Salvador é gigante, temos coisas acontecendo em todos os cantos, a todo momento, em todas as áreas. Vou citar alguns, mas não de forma a reduzir, mas em nome desses alguns quero sim destacar o todo: nas artes, Rebeca Carapiá, que acaba de abrir uma instalação belíssima em Inhotim, na música, Luedji Luna, com um trabalho que emociona a todos, na dramaturgia, Aldri Anunciação e Elisio Lopes, que estão em todos os cantos, e juntos com Itamar Vieira Jr, também daqui, podem ser vistos no momento também no Musical Torto Arado, uma produção soteropolitana de nível internacional.
Pronto: Qual é o legado que você quer deixar como secretário de cultura e turismo de Salvador?
Pedro Tourinho: Na prefeitura, para além da realização do Carnaval de Salvador, implementei iniciativas como o Distrito Cultural do Centro Histórico, o Programa Municipal de Desenvolvimento Audiovisual (Salcine) e o Plano de afro turismo Salvador Capital Afro. Também fui responsável pelos projetos de reativação de locais importantes, como o Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira, a Galeria do Mercado Modelo, o novo Arquivo Público com sua Casa das Histórias, o Teatro Vila Velha e Centro Cultural Ilê Aiyê. Mas para além dessas entregas físicas, espero que tenha ficado evidente para todos que investir em cultura sim, vale a pena.
E na sua cidade, como está o cenário cultural e turístico?