Quanto tempo falta para ficar impossível pagar um aluguel no Rio de Janeiro?

Pedro Philippe FS.

29/7/2024

“MENOS TURISMO, MAIS VIDA”

No domingo (21), 20 mil moradores de Maiorca, na Espanha, protestaram contra o turismo excessivo na ilha.
Uma semana antes, outra cidade espanhola protagonizou uma cena parecida: em Barcelona, residentes atacaram visitantes com pistolas d’água, cobrando do governo medidas para frear esse excesso. Jato de água parece agressivo, mas se liga no tamanho do problema: o preço do aluguel em Barcelona aumentou quase 65% em uma década. Puxado.

“NÃO É UMA MANIFESTAÇÃO CONTRA O TURISMO”

Os cartazes em Maiorca deixavam claro: é uma manifestação contra a falta de habilidade do governo em mediar os interesses de um mercado necessário à economia local e os dos moradores destes destinos. Os estrangeiros influem na vida dos espanhóis comprando imóveis no país, para fazer dinheiro alugando-os em seguida; ou como turistas, alugando por temporada. Muitos cidadãos dessas cidades estão se mudando porque não conseguem mais arcar com os custos de moradia.

AI DE TI, COPACABANA

Aqui no Brasil, ainda estamos longe de sentir na pele os efeitos do turismo em massa nessas proporções – de precisar reunir milhares para ir às ruas protestar. Mas o primeiro sintoma de viver em um destino turístico já começou a arder: está difícil encontrar imóvel para alugar, agora que os proprietários preferem hóspedes por temporada, já que é muito mais lucrativo.

“Tem muita gente comprando apartamento em Ipanema e Copacabana para reformar e alugar por temporada, com uma taxa de ocupação bem alta. Como esses imóveis saem da rotatividade, quem precisa morar na cidade começa a migrar para bairros vizinhos. Isso aumenta o aluguel nesses lugares, os bairros vizinhos começam a encarecer e cria-se um efeito cascata, causando um problema de habitação no município.”

João Tupinambá, corretor de imóveis no Rio de Janeiro

Em junho deste ano, a prefeitura de Barcelona proibiu o aluguel de quartos para turistas em plataformas virtuais. Esta é uma das medidas para tentar frear o turismo em massa no país. Ao contrário do que fez Nova York em 2023 (onde não se pode mais alugar o apartamento inteiro, apenas um quarto), em Barcelona o proprietário de um imóvel não pode destinar parte dele para aluguel, apenas o imóvel inteiro.

“Apartamentos até dois dormitórios têm saído do mercado de locação e estacionado apenas em mercado para temporada. Os proprietários não estão querendo mais alugar a longo prazo. Antigamente você não demorava mais de um mês para encontrar um imóvel no Rio de Janeiro. Hoje em dia, a procura pode se estender por um semestre inteiro.”

Mariana Turbiani, corretora de imóveis no Rio de Janeiro

A primeira cidade a regulamentar as plataformas de aluguel foi Berlim, em 2014. Hoje, tanto a Alemanha, quanto Espanha e Estados Unidos tentam resolver o problema da habitação em suas cidades turísticas a partir deste gargalo. O grande desafio, que o Brasil deve enfrentar em breve, é este: como continuar incentivando a economia local, mas sem tornar inviável a vida dos seus moradores?

E você?
Tem sentido os efeitos do turismo no seu bolso?

Pedro Philippe FS.

Jornalista e podcaster do sertão do Cariri cearense