Pedro Philippe FS.
13/3/2024
O vídeo trouxe a reboque uma enxurrada de tweets e stories, tanto de fieis, quanto de influenciadores que não têm conhecimento do assunto.
Quem parece gostar dessa pauta é a antiga Ministra dos Direitos Humanos e atual senadora, Damares Alves. Em 2022, Damares usou o púlpito de uma igreja evangélica para narrar cenas tanto irreais quanto irreproduzíveis de abuso infantil.
Como não é verdade o que ela falou naquela situação, criando sensacionalismo sobre um problema real e urgente, o Ministério Público ajuizou uma ação civil contra esta senhora, que claramente tem uma fixação preocupante por este tema tão horroroso.
(E a gente detesta falar de gente baixo astral aqui, mas está inevitável)
Exploração infantil é um problema real e que precisa ser combatido. Não só no Pará, mas em todo o Brasil. Esse é um problema nacional e a solução pra ele é cobrar incansavelmente o Estado por políticas que protejam a infância e fortaleçam o sistema de proteção e de garantia dos direitos da criança, assim como mais investimento em escolas e conselhos tutelares.
Na sequência, após a viralização da tal música, artistas e influencers passaram a repercutir o vídeo da apresentação da cantora, com legendas nada espontâneas.
Estranho.
É um pouco difícil acreditar que essa mobilização tenha sido espontânea - e não patrocinada por quem quer se beneficiar do pânico causado por ela.
Na hora de se informar sobre a questão, é bom ouvir quem mora lá e age diariamente a favor da comunidade - e não influencers de Instagram que nunca lembram que Marajó existe.
Então, com a palavra, o Observatório Marajó, ONG que atua na Ilha de Marajó:
“A propaganda que associa o Marajó à exploração e o abuso sexual não é verdadeira: a população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes. Insiste nessa narrativa quem quer propagá-la e desonrar o povo marajoara”.
Muito precisa ser feito para garantir dignidade às crianças marajoaras e brasileiras em todos os estados. Em todos os níveis, e de sul a norte do país, precisamos de políticas públicas baseadas em evidências, boas práticas, saberes tradicionais, valores do bem viver - não mentiras, distorções, manipulações, pânico moral, racismo, nem de qualquer outra forma de violência.
@obsdomarajo
Marajó não precisa de salvação divina, precisa é de política pública, de educação, de informação! Sobrevivemos à invasão dos nossos territórios originários e esse papo de salvação é o mesmo papo do colonizador/invasor que troca espelhos por falsa promessa de um cantinho no céu.
As perguntas que eu faço são:
a quem interessa disseminar desinformação sem quaisquer fontes ou dados? A quem interessa banalizar assuntos sérios e não tratá-los com a seriedade que esses mesmos assuntos pedem? A quem interessa estigmatizar e estereotipar uma região inteira? A quem interessa ignorar a existência do Estado, afirmando que só a justiça divina pode dar conta de todos os problemas que Marajó tem?
É responsabilidade coletiva não disseminar estereótipos sobre lugares que não conhecemos. É preciso pesquisar para falar de assuntos sérios. É preciso ouvir quem vive no lugar e quem vai continuar. Isso é construir um projeto social com responsabilidade coletiva.
Respeitem nossos territórios!
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