Uma aula sobre o que é ser professor no Brasil com Matheus Buente

Peu Araújo

15/10/2024

Matheus Buente surgiu há alguns anos na internet com um microfone na mão, bom humor e uma língua afiada sobre Salvador, Bahia, História do Brasil e sobre a sala de aula na rede pública do país. Aos 36 anos, 15 deles como professor, o historiador e comediante traz um olhar real e rico para entendermos como é e porque a educação no Brasil está nas condições em que está. E para celebrarmos esse Dia dos Professores, convidamos vocês para uma reflexão. 

“A sala de aula na escola pública do Brasil é o Brasil, o Brasil verdadeiro. O verdadeiro recorte social, o verdadeiro recorte religioso. A maioria esmagadora das pessoas do Brasil estuda nas escolas públicas de suas cidades. Ali você tem a chance de conhecer esse Brasil real, que não está na rede social, não é mostrado na propaganda, não tem campanha do governo sobre esse Brasil, é o Brasil de verdade, o Brasil profundo, a sala de aula, a escola pública brasileira. Então, com todas as delícias e todas as dores desse país. São alunos muito criativos, são alunos alegres, são alunos fantásticos, inteligentes, mas é necessário que se criem as oportunidades de vida para essas pessoas.”

“Eu tenho uma teoria muito curiosa sobre por que a profissão é desrespeitada no Brasil. Eu acho de verdade que por anos e anos foi uma profissão de mulher. Eram as mulheres que educavam, as moças do magistério. A figura da professora é muito presente nas comunidades. Eu acredito que boa parte da desvalorização vem muito dessa relação ainda machista, misógina. De que mulher tem que ganhar pouco, é algo que qualquer um faz, é algo que tem que ser feito com amor, com cuidado. É quase que maternal a percepção da sociedade com a profissão de professor. Como se fosse a vocação, o chamado. Tal como é para ser mãe. A desvalorização vem muito desse lugar. Dessa associação constante do magistério com a maternidade.”

“O maior desafio da educação no Brasil hoje é torná-la pública, tem que acabar a escola particular. Eu acredito que boa parte dessas questões educacionais têm o seu problema dentro da relação mercantil que é imposta na educação. Educação, saúde, segurança são questões que não deveriam ser mercantilizadas, mas sim popularizadas e feitas de maneira a ter acesso de todos. Então as escolas públicas deveriam ser só públicas, todas. O Estado ser responsável por isso e entender que não adianta aplicar na educação uma lógica mercantilista, que a educação não se vende, a educação é projeto nacional, é desenvolvimento humano, é pensar em construir uma sociedade melhor.”

No dia de hoje, eu digo aos meus colegas professores, primeiro, obrigado. Tive muitos professores legais, outros nem tanto, mas todos acreditavam em mim, quase todos. Teve professores muito legais que me inspiraram de verdade, me inspiram até hoje, em todos os níveis de educação, seja no básico até na universidade. E principalmente os meus colegas. Muitas pessoas me ensinaram muito, trabalhando junto, conversando. Os meus colegas lá, principalmente da Rede Pública de Salvador. Então, por onde eu passei, eu tive colegas fantásticos que eu tenho saudade e que eu tenho gratidão. Então, aos meus colegas, muito obrigado.”

“E aos alunos do Brasil, eu digo a vocês, estude, porque um aluno que estuda deixa o professor extremamente contente e satisfeito. Estude, meu velho, aproveite a oportunidade, o professor não é seu inimigo. O professor só quer que você estude. Estudar é a maior demonstração de afeto e respeito que você pode ter pela sua professora, pelo seu professor. Não é pra ser o mais quietinho, não é pra ser o mais calado, não é pra ser o que não brinca, o que não faz piada, o que não dança, nada disso. É pra ser o que estuda. Se você estudar, você vai estar fazendo seu professor muito feliz e vai estar colaborando pro seu próprio futuro de maneira maravilhosa.”

E você, quais os professores que mais te marcaram?

Peu Araújo

Jornalista, diretor, diretor de conteúdo, roteirista, pesquisador, colecionador de discos e DJ. Como repórter, atua há quase 20 anos com colaborações e passagens por grandes redações. No audiovisual, fez a pesquisa para a série Em Nome de Deus, da Rede Globo. Fez direção de conteúdo para a série Guga Por Kuerten, prevista para o lançamento em 2024 na Disney / Star+. Fez direção e roteiro do documentário Nocaute: Golpes de Uma Tragédia, para UOL Play, entre outros trabalhos. É também pesquisador de música brasileira e diretor musical.