Pedro Philippe FS.
9/10/2024
Em cinco anos, entre 2017 e 2021, as denúncias de xenofobia contra brasileiros em Portugal cresceram 505%. Paralelo ao discurso de ódio, o número de brasileiros residentes no país também não para de aumentar: neste ano, pela primeira vez, ultrapassamos a marca de 400 mil imigrantes. O número deve aumentar ainda mais nos próximos meses, quando o governo português regularizar outros 350 mil pedidos em que a grande maioria é de brasileiros.
MIRANDO NOS ESTRANGEIROS ERRADOS
De um lado, Portugal tem a população mais envelhecida da União Europeia. Isto é, precisa de mão-de-obra jovem. De outro, oferece os melhores programas de residência por investimento em troca de um golden visa. Isto é, aumenta a especulação imobiliária do país. Em vez de se irritar com os estrangeiros ricos que tornam inviável o custo da moradia no país, quem é anti-imigração vocifera contra os estrangeiros trabalhadores.
Qual o nome disso? Racismo.
“Desde que eu cheguei a Portugal, há quatro anos, parece que o comportamento dos portugueses preconceituosos só retrocede. As violências variam desde pequenas agressões diárias até discursos de ódio e de discriminação. E isso está em todos os lugares. Eu já passei por isso no trabalho, meu filho e meus sobrinhos passaram por isso na escola… Nós somos vistos como culpados da taxa de desemprego, pela sobrecarga no serviço público, enquanto a gente segue escutando “volta pra tua terra”.
Amanda Pires, brasileira, baiana, mora em Lisboa
“Temos hoje um parlamento com 48 deputados de extrema-direita, eleitos pelo CHEGA, terceiro partido mais votado nas últimas eleições. Esses políticos levantam a pauta da imigração, que é cada vez mais abraçada pela população portuguesa, que direciona todo o seu ódio aos brasileiros.”
Pedro Tavares, português, mora em Fortaleza (CE)
É MUITO PIOR PARA AS MULHERES
Somado a todas as ofensas racistas, as mulheres brasileiras são vítimas de agressões machistas por parte dos portugueses anti-imigração. Quando querem insultar, dizem que “toda brasileira é puta”. A justificativa é uma lenda urbana que correu pelo país em 2003: uma comunidade brasileira nasceu na cidade de Bragança, a 490 km de Lisboa, e um movimento que ficou conhecido como “mães de Bragança” acusava todas as mulheres brasileiras (que eram cerca de 300) de serem prostitutas que estavam acabando com os lares portugueses.
Desde então, e como desculpa para o machismo e violência, as brasileiras são tachadas como prostitutas.
“Tenho para mim que o grande problema entre Brasil e Portugal é uma questão de “ciúme”. O Brasil, que cresceu muito, tornou-se a 8º maior economia do mundo, tem 220 milhões de habitantes. E é reconhecido em tudo, na cultura, no futebol. Enquanto isso, o resto do mundo se refere à língua portuguesa como “brasileiro” e não como “português” porque o Brasil é mais relevante, então acham que até a língua é brasileira. Outrora tínhamos o mundo em nossas mãos e hoje somos um mero país no continente europeu”.
Pedro Tavares, português, mora em Fortaleza (CE)
“Está em alta agora uma figura de direita que usa um discurso de ódio sem meias palavras, que é o deputado André Ventura. Ainda bem que os apoiadores dele são minoria. Acho difícil os portugueses darem maioria para esse tipo de projeto de nação. Pelo menos a gente espera que não.”
Amanda Pires, brasileira, baiana, mora em Lisboa
E VOCÊ?
Tem alguma história para contar sobre a vivência de brasileiros em Portugal?